* Caminhando na chuva, de Charles Kiefer. São Paulo: Editora Leya, 2012, 148 p.
É digno de toda consideração que essa pequena novela (pequena na extensão, fique absolutamente claro) chamada Caminhando na chuva assinale a estreia do gaúcho Charles Kiefer no mercado editorial. O feito ocorreu em 1982, e portanto essa obra fecha 30 anos – teremos aí uma obra balzaquiana! – em 2012.
É digno de toda consideração que essa pequena novela (pequena na extensão, fique absolutamente claro) chamada Caminhando na chuva
Quem uma vez lê Caminhando na chuva
O narrador de Caminhando na chuva nos fala de sua infância, de sua história, de suas dúvidas, se confronta com os sentimentos que começam a doer mais (o amor, alguma saudade, alguma frustração, alguma vergonha, alguma incerteza), vê o futuro se avizinhar. Está no segundo grau, sabe que precisa começar a por mãos à obra e fazer a vida render, e, entre o amor e entre tentar a sorte em seguir aos estudos, terá que tomar a decisão.
E ele, todas as grandes decisões toma de um jeito. Sai a caminhar nos dias em que a grande maioria justamente se ausenta das ruas: quando chuvisca, quando a neblina cobre a paisagem e toma tudo com um manto, um véu, de carícia, de promessa. Mas quando a paisagem externa está menos transparente, parece que é quando ele enxerga melhor, com mais transparência, dentro de si. Quando enfim pode estar sozinho (isso não lhes lembra a condição do leitor?), quando pode prestar atenção em seus próprios passos, quando a rua realmente se abre para ver onde está a passagem mais confiável, mesmo sob a chuva, é ali que ele formata seu caminho, aquele que o levará mais longe, mais para perto de si mesmo. Seja de dia ou seja à noite, caminhando, caminhando, caminhando, caminhando e pensando, ele enfim se encontra. E de repente a gente se encontra também.
Graças ao Charles Kiefer.
Para ler dezenas de vezes. Dezenas.